Sete assets aderem à iniciativa Investidores pelo Clima

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A iniciativa Investidores pelo Clima recebeu a adesão pública de sete gestoras de recursos nos meses de maio, junho e julho de 2020. A plataforma já conta com o compromisso formal da JGP, Constellation, Quasar e assets do Itaú, BTG Pactual, Santander e Bradesco. As sete gestoras detêm juntas mais de R$ 1,7 trilhão em ativos sob gestão.

A iniciativa tem o objetivo de induzir o maior engajamento de investidores com as empresas investidas. Ao assinar o documento de adesão, os signatários se comprometem com a realização de atividade de propriedade ativa relacionada ao tema das mudanças climáticas em ao menos em uma companhia investida a cada ano. A finalidade é estimular as empresas a incluir o tema em suas políticas e práticas. Para tal, o documento sugere o engajamento institucional por meio de relacionamento com a gerência, direção e área de Relações com Investidores e por meio do voto em assembleias de acionistas, cotistas e debenturistas.

A iniciativa foi lançada pela Sitawi em outubro do ano passado

e conta com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e tem como parceiros os Princípios para o Investimento Responsável (PRI) e o CDP (antigo Carbon Disclosure Protocol), ONG global que opera a maior plataforma de divulgação de informações de empresas e cidades sobre clima, água e desmatamento. A plataforma começou recentemente uma nova atividade de engajamento junto a três empresas de setores com grande potencial de emissões de gases de efeito estufa (GEE).

Carla Schuchmann, da Sitawi. Foto: Divulgação.

“Com base no questionário do CDP, levantamos os principais destaques e debilidades dessas companhias como uma forma de incentivá-las a evoluir em sua gestão de riscos e oportunidades climáticas”, explica Carla Schuchmann, Gerente de Finanças Sustentáveis da consultoria Sitawi e responsável pela iniciativa. 

Engajamento 

“Entendo que esse processo passa antes pelo engajamento com as empresas com o objetivo de buscar informações sobre a sua gestão e estratégias climáticas”, pondera Luzia Hirata, Analista de Investimentos da Santander Asset Management (SAM). A asset tem uma atuação mais destacada com empresas de setores mais intensivos em carbono, como os de petróleo e gás e o petroquímico. Ações adicionais para engajar seus investidos estão sendo discutidas no âmbito global do Santander.

A JGP também está apostando no relacionamento amigável com as empresas para motivá-las a adotar políticas e práticas que considerem os fatores ESG (ambientais, sociais e de governança) e a gestão de riscos e oportunidades climáticos. “A maioria das empresas no Brasil tem controle definido. Mesmo que nos juntemos com vários investidores nas assembleias de acionistas, não se consegue forçar nossa vontade para cima do controlador”, diz Marcos di Tullio, Analista de Renda Variável da JGP, onde se tornou o ponto focal dos temas relacionados aos aspectos ASG e às mudanças climáticas.

“Converso sobre ESG, materialidade, o que eles estão fazendo para melhorar, como podemos ajudar. É o que estamos fazendo com todas as empresas com quem temos contato”, diz Tullio.

Carla, da Sitawi, enfatiza que os investidores precisam ser cuidadosos na abordagem das companhias investidas. “Não posso fazer essa pergunta complexa sobre riscos e oportunidades climáticas para uma empresa que ainda nem faz inventário de emissões. O engajamento tem de ser com o propósito de abrir um canal para ajudar a empresa a melhorar. Do contrário, a empresa não vai querer mais receber o investidor”, diz a especialista da Sitawi. 

Reporte climático 

Outro compromisso relevante assumido pelos gestores de ativos no Investidores pelo Clima é o reporte público dos avanços na gestão de riscos e oportunidades climáticas dos portfólios investidos. Quando possível, o relato deve seguir as diretrizes da força-tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD, na sigla em inglês).

Para auxiliá-la nessa tarefa, a JGP tornou-se no início deste mês signatária do CDP. “Esperamos que com o CDP a

Marcos di Tullio, da JGP. Foto: Divulgação.

gente consiga melhorar muito nosso entendimento sobre riscos e oportunidades climáticas. Queremos aprender mais sobre os setores, por exemplo, para saber os motivos de uma empresa ser pior que a outra em ESG e mudanças climáticas”, diz Marcos di Tullio.

Na semana passada, a JGP enviou aos cotistas de seus fundos sua primeira carta sobre temas socioambientais. Trata-se de documento de 51 páginas que sintetiza um ano e meio de aprendizado da gestora sobre ESG e mudanças climáticas. Esse período teve início logo após o rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro de 2019. O acidente foi um divisor de águas na história da JGP, que levou a gestora a um mergulho na área de sustentabilidade. Desde então, a asset já lançou um novo fundo de ações ESG em maio último e fundos de previdência ESG em parceria com a XP e Icatu neste mês.

Para facilitar a implementação do compromisso de reporte da iniciativa, os investidores sugeriram à Sitawi que as respostas ao questionário anual do PRI possam ser utilizadas no reporte para a plataforma.

Luzia Hirata, da SAM. Foto: Divulgação.

Desde 2020, o módulo sobre clima do questionário passou a ser de preenchimento obrigatório, segundo Luzia Hirata, que reportou ao PRI no início deste ano as iniciativas da asset do Santander para buscar o entendimento da gestora em relação às questões de clima, como a participação na plataforma e o alinhamento interno sobre o tema. “Entendemos que estamos no início dessas discussões, mas que nossas ações serão direcionadas para que tenhamos avanços significativos no próximo ano, atendendo a esse compromisso do Investidores pelo Clima”, diz Luzia.

Novos produtos 

A asset Quasar está construindo sua metodologia para avaliar oportunidades e riscos climáticos na carteira de projetos investidos e no desenvolvimento de estratégia para influenciar suas empresas investidas a incorporar as mudanças climáticas e o ESG nos seus negócios.

A entrada na iniciativa IPC é um dos acenos mais vigorosos da transição que a Quasar vem trilhando desde o ano passado. Para atender aos compromissos da iniciativa e incorporar a questão climática e os aspectos ESG nos seus 12 fundos, a gestora utilizará como modelo seu futuro fundo de infraestrutura com características verdes.

“Uma contribuição positiva para o mundo sempre foi uma preocupação muito grande da empresa, que, como gestora, busca ter uma função ativa no desenvolvimento sustentável do Brasil”, diz Sofia Caccuri, Sócia da área de infraestrutura da Quasar. Segundo ela, os investidores buscam cada vez mais entender de que maneira seus investimentos impactam o meio ambiente e a sociedade.

Previsto para estrear no mercado ainda neste semestre, o novo fundo captará recursos para investimentos em energia, transporte, água e saneamento, contemplando a incorporação de tecnologias menos intensivas em carbono e que atendam a critérios ESG.

Também se encontra em gestação na Quasar um fundo de impacto, com previsão para ser lançado entre o final de 2020 e o começo de 2021. Ele terá o formato de um fundo de investimentos em participações (FIP) multissetorial, voltado às áreas de educação, saúde, água e saneamento básico, meio ambiente, agricultura e energia.

“Foi um desafio chegar a um compromisso que fosse bem aceito pelos investidores, justamente porque não são todos que estão prontos, por exemplo, para fazer análise climática e descarbonização do portfólio. É o compromisso possível”, afirma Carla Schuchmann, da Sitawi.