Perspectivas 2021 com Luiz Fernando Figueiredo

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Em entrevista exclusiva ao Panorama Amec, o ex-Diretor do Banco Central e CEO da Mauá Capital, Luiz Fernando Figueiredo, traça perspectivas para 2021. Ex-Presidente da Amec, o gestor prevê crescimento do PIB brasileiro entre 3,5% a 4% com a retomada da abertura da Selic a partir do início do segundo semestre.

Economia mundial

Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Capital. Foto: Divulgação.

As perspectivas para a economia mundial estão relacionadas a uma saída gradual da pandemia, com o avanço da vacinação até a metade do ano. Enquanto isso, os países continuarão com os juros baixíssimos, com expansão da liquidez e ampliação dos pacotes fiscais de ajuda às pessoas, famílias e empresas. Isso garantirá tranquilidade ao mercado durante o ano inteiro. Claro que existirão oscilações, mas os pacotes darão um certo conforto. Ao mesmo tempo, o aspecto fiscal vai piorando com mais ajudas fiscais e monetárias.

PIB no Brasil

Não seria diferente aqui, porém, o Brasil não tem condições de realizar outra ajuda importante, porque não há mais espaço fiscal para isso. Porém, é um ano em que continuaremos a conviver com uma liquidez maior. A vacinação poderá demorar um pouco mais por aqui, mas isso não deve comprometer o crescimento em 2021, que deverá chegar a algo entre 3,5% e 4% do PIB. Isso nada mais é que uma recuperação parcial do que perdemos no ano passado. A inflação deverá ficar em torno de 3,5%.

Liquidez global

Será um ano de recuperação no mundo inteiro e aqui não será diferente. Vamos demorar um pouco mais para recuperar devido ao tempo maior para a chegarmos a uma vacinação em massa no país. É um ano em que os ativos brasileiros irão performar relativamente bem, porque o mundo está indo bem e a liquidez continuará grande.

Preocupação com o fiscal

Poderemos ver alguns avanços nas reformas tributária e administrativa, mas não dá para apostar em grandes avanços em termos de reformas. Podemos esperar alguma melhora no aspecto fiscal, mas não vamos ver um nível de queda da dívida pública. Para isso, seria necessário fazer um ajuste adicional de 3% a 3,5% do PIB. Ou seja, teríamos de sair de um déficit primário esperado na ordem de 2% negativos para alcançar 1% positivo ou um pouco mais no ano. Daí conseguiríamos estabilizar a relação dívida-PIB e até reduzir ao longo do tempo.

Ciclo Selic

Estamos hoje com os juros bastante baixos, muito abaixo do juro neutro ou estrutural, que seria 3% de inflação mais 2% de juro real. Ou seja, os juros neutros estariam ao redor de 5% ou um pouco mais. Porém, temos uma ociosidade muito grande que é reduzida muito lentamente. Dito isso, acredito que o Banco Central deve buscar um juro menos estimulativo, mais próximo da neutralidade, no início do segundo semestre, ou talvez um pouco antes. Será um processo gradual com o objetivo de chegar a um patamar de juro básico entre 5% e 6% ao ano. A inflação deve continuar em ordem devido à enorme ociosidade e ao desemprego na área de serviços.