MSCI apresentou metodologia e exemplos de análise ESG de empresas

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A Associação dos Investidores do Mercado de Capitais (Amec) recebeu representantes da da MSCI para um bate-papo sobre ESG (Ambiental, Social e Governança). Participaram o head de estratégias e índices para América Latina, Conrad Albrecht, e a analista, Tatyana Patezani Cipelli.

Fábio Coelho, Presidente Executivo da Amec, abriu o encontro explicando que o ESG é um tema que vem ganhando muita importância principalmente na Europa, onde já está sendo incorporado na regulação dos mercados. No Brasil, as práticas socioambientais na tomada de decisões pelos investidores estão avançando, mas de maneira desigual. “O tema tem um desenvolvimento heterogêneo aqui. Muitas assets já estão utilizando como ferramenta de análise de empresas. A Amec tem o Código Stewardship desde 2016 que estimula o engajamento entre investidores e empresas e a Amec está estimulando sua adoção. Um dos princípios fundamentais do stewardship é o ESG”, disse. O Presidente adiantou que os temas ambientais, sociais e de governança serão bastante recorrentes nos próximos encontros da série “Amec Convida”.

Conrad Albrecht, da MSCI. Foto: Divulgação.

Conrad Albrecht iniciou sua exposição esclarecendo que a MSCI tem o ESG como core business e não apenas como uma área ou um produto complementar. A empresa conta com 210 analistas totalmente dedicados para analisar empresas, com a produção de mais de 1000 índices. A MSCI tem quase três décadas de experiência desde o primeiro índice social. O KLD 400 existe há 28 anos e foi lançado originalmente para avaliar as empresas no aspecto da responsabilidade social. Seu histórico mostra que performou muito acima do MSCI USA, demonstrando sua capacidade de captura de alfa, mostrou Conrad.

O profissional mostrou que as estratégias indexadas aos índices ESG estão registrando forte crescimento nos últimos anos. Os índices MSCI ESG saíram de um volume de US$ 1,4 bilhão com 12 ETFs em 2014 e no final do primeiro trimestre de 2020, já eram 180 ETFs indexados aos índices ESG, com um total de US$ 37 bilhões em ativos sob gestão.

Metodologia

O especialista explicou que a MSCI utiliza um modelo proprietário de análise ESG de empresas para classificá-las em uma escala de rating. A metodologia baseia-se em cerca de 20% dos dados públicos, 35% de informações fornecidas pelas próprias empresas e 45% do que são chamados dados alternativos. Ele explicou que o diferencial da MSCI é a utilização dessas informações alternativas provenientes de big data, redes neurais e inteligência artificial. “Utilizamos os dados alternativos muitas vezes para confirmar se aquilo que a empresa está falando condiz com a realidade”, disse Conrad.

Tatiana Cipelli deu exemplo de uso de dados alternativos que são, por exemplo, as imagens de satélite geoespaciais para analisar as instalações das mineradoras. A analista mostrou imagens capazes de fornecer dados, por exemplo, de barragens de mineradoras como a Vale no Brasil, e outras empresas desse setor na China.

A metodologia da MSCI utiliza 37 key issues (questões-chave) distribuídas nos eixos ambiental, social e de governança, para avaliar as empresas. Essas questões são aplicadas com um sistema de scores ponderados dependendo do setor e do perfil de cada empresa. “O peso não é igual para os setores e mesmo dentro de um setor, cada empresa pode ter ponderações diferentes”, explicou Conrad. Ele deu um exemplo básico, que o pilar ambiental tem peso muito maior para uma mineradora que para montadora automotiva.

O sistema de scores é revisado anualmente, assim como a possibilidade de incorporação de novos key issues, como por exemplo, o uso de plásticos e açúcares, que foram adicionados na última revisão.

América Latina

A MSCI realiza atualmente a análise ESG de 682 companhias na América Latina, distribuídas no Brasil, México, Chile, Colômbia, Peru e Argentina. Com 130 empresas, o Brasil tem 38% delas no nível mais baixo (CCC e B), 53% com rating intermediário (BB e A), e apenas 8%, no patamar mais alto (AA e AAA). São 30 empresas brasileiras que estão no rating mais baixo e apenas uma, a Natura, com a nota mais alta (AAA).

Em comparação com os demais países latino americanos, as empresas brasileiras possuem o melhor ranqueamento ambiental, com média de 5 (escala de 1 a 10), seguido pelo México com 4,9. Já no critério social, o Brasil tem nota média 4,38, ficando à frente apenas da Argentina, com 3,67, e bem atrás da Colômbia, com média de 5,5. No aspecto de governança, as companhias brasileiras ficam com nota média 3,91, a frente apenas de México (3,8) e Argentina (3,75).

Já a comparação com as empresas nórdicas, que são as mais bem avaliadas pelas análises da MSCI mostram que os países latino americanos ainda ficam bem atrás, sobretudo nos critérios ambientais e de governança. A Finlândia, por exemplo, tem nota média de 7,1 em governança, ante 4, da América Latina. A nota média da Dinamarca no critério ambiental é de 5,7, ante 4,5 das empresas latino americanas. A distância é um pouco menor na análise social, com a Suécia com nota de 5,3 e a América Latina com 4,6.

Mercados emergentes

Ao apresentar o case da Vale, Tatyana Cipelli, começou admitindo a dificuldade que os investidores enfrentam nos mercados emergentes de obter informações públicas das empresas relacionadas aos aspectos ESG. Por isso, que a MSCI se propõe a superar essa dificuldade, pelo menos em parte, com a utilização de bases de dados alternativos, conforme explicado. No caso das barragens da Vale, por exemplo, os relatórios eram limitados.

O rating da empresa foi rebaixado pela MSCI de BB para B após o rompimento da barragem de Mariana em 2015. E depois disso, foi rebaixado novamente de BB para CCC, após novo rompimento de barragem, desta vez com maiores consequências, em Brumadinho em janeiro de 2019. A analista apresentou uma avaliação mais completa de aspectos ambientais, sociais e de governança da mineradora. E depois houve um debate sobre a mudança de percepção do rating da empresa nas avaliações mais recentes, mas que ainda não foram suficientes para modificar o rating atribuído pela MSCI.