Home office ou retorno ao escritório: Polo Capital e Compass Group comentam suas opções

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A maior parte das assets entrevistadas pelo Panorama Amec nas últimas semanas tem deixado seus colaboradores em casa. No entanto, há algumas empresas que oferecem liberdade para seus gestores definirem o regime a ser adotado, com foco na manutenção do ritmo de trabalho adequado, garantidos os cuidados de distanciamento e higienização.

Polo Capital

Desde o início da pandemia, cerca de 15% a 20% dos colaboradores da asset não deixou de frequentar o escritório. O próprio sócio fundador, Marcos Duarte, continua acessando o local de trabalho. “Eu tenho vindo praticamente todos os dias, pois funciono muito melhor com as telas e preciso de ambiente presencial de troca de ideias. Isso não é um comportamento unânime em nosso time e no que tenho visto em outras assets. Depende da produtividade de cada profissional”, disse.

Marcos Duarte explica que há muitas distrações que dificultam a concentração em home office. “Além da atenção aos filhos pequenos, outro fator é que há limitação para se trabalhar apenas com ferramentas virtuais”, comenta. E como uma parte menor da equipe está utilizando o escritório, é possível manter distância adequada para evitar qualquer risco de contágio.

O gestor avalia por conta de processo de preparação anterior, a Polo Capital está navegando com certa facilidade o novo ambiente. “Tínhamos nos preparado para contingência de trabalho remoto em caso de incêndio, o que acabou ajudando para o momento atual”, comenta. Ele explica que ao criar esse Plano B, a asset acabou implantando sistemas necessários com VPNs e ambiente de dados em nuvem. 

Outra característica de funcionamento do mercado com o advento da pandemia foi o aumento da comunicação virtual com os stakeholders. Os novos veículos de comunicação e as plataformas de videoconferência criaram agilidade no contato com empresas investidas.

“Agora não precisamos pegar um avião para participar das assembleias, que eram realizadas quase todas na mesma época. Tínhamos de organizar um time de advogados para irem a todas”, diz o gestor da Polo, que lembra que foi um dos fundadores da Amec e sempre defendeu o maior engajamento dos investidores na governança das empresas. Ele ressalta que agora é possível participação de todas as Assembleias com equipe própria. Para reforçar essa estrutura de comunicação pelas plataformas, 3 salas do escritório da foram equipadas para serem utilizadas em videoconferências. 

Compass Group

Antonio Miranda. Foto: Divulgação.

Com colaboradores em diversos países da América Latina e EUA, a asset não enfrentou grandes dificuldades para incorporar as determinações de quarentena ou lockdown das cidades onde mantém operação. Com analistas e portfolio managers espalhados nos escritórios da Argentina, Colômbia, México, Brasil e Nova York, a empresa já mantinha estrutura e processo de funcionamento remoto. “A distância física já está na cultura de nossa casa. A maior parte do pessoal está em home office, mas isso não está prejudicando praticamente nada. Ao contrário, estamos trabalhando muito mais, com alto grau de colaboração”, diz Antonio Miranda, Sócio e CIO do Compass Group.

Sediado em Nova York, o gestor está trabalhando em casa desde o início da pandemia. Ele explica, porém, que no escritório da asset do Chile, onde é mantida a maior estrutura de colaboradores, com 150 funcionários, foi dada a opção para que aqueles que quisessem, continuar frequentando o escritório. “Tínhamos essa opção para que o pessoal de nossa operação no Chile decidisse no caso a caso. No entanto, a situação mudou há alguns dias quando a cidade de Santiago decretou o lockdown, a partir do último dia 15 de maio”, comenta.

Impactos

Os gestores têm apontado nos últimos dias o aumento das incertezas e o agravamento das dificuldades para a retomada da atividade econômica e a recuperação do mercado brasileiro. “O Brasil é um mercado muito relevante na América Latina que sofreu mais rápido e com maior violência os impactos da crise, em comparação a outros mercados globais. Isso ocorreu por vários fatores, dentre eles a interdependência com a China e Ásia por conta das commodities. E a pandemia afetou inicialmente com mais força o mercado chinês, que foi o primeiro epicentro da pandemia”, diz Antonio Miranda.

Outros fatores que afetam negativamente não apenas o Brasil, mas também outros países da América Latina, é a falta de coordenação na saúde pública e o poder reduzido para as políticas fiscais de ajuda das empresas e da população. “Logo no início da pandemia ou até antes, essas percepções ganharam força e os fundos globais reduziram rapidamente as posições de América Latina”.

Quando se faz uma análise mais aprofundada dos países da região, porém, é possível verificar que o funding da saúde pública e o número de leitos não são tão ruins, defende o gestor da Compass. Países como a Argentina e Peru, por exemplo, tomaram ações muito rápidas. Mesmo no Brasil, um número grande de estados e municípios tomaram ações corretas, apesar dos problemas de coordenação com governo federal. Cabe o registro de que a existência do SUS garante uma estrutura melhor de saúde que muitos outros países emergentes.

Perspectivas

O CIO do Compass revela a empresa já avaliava em seu processo de investimento, dentro das macrotendências globais, a importância dos processos de implementação de tecnologias digitais. “É uma tese que nós gostamos, não só nas startups, mas de adoção de tecnologia em todas as empresas, que tenham times de conhecimento reconhecido para melhor utilização das tecnologias digitais nos negócios”, comenta Miranda.

O gestor explica que, por outro lado, o tamanho do mercado foi reduzido com a perda do emprego e renda. “O bolo foi reduzido e apenas alguns segmentos e algumas empresas serão beneficiados”, diz. Por isso, a análise das empresas deve levar em conta todas essas mudanças provocadas pelos novos modelos de negócios e do mercado.