Evento incentiva reflexões sobre a tempestividade do relato de informações ESG

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A tempestividade relacionada ao reporte de informações ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) pelas empresas foi o tema de webinar realizado pela Global Reporting Initiative (GRI) do Brasil na última quarta-feira, 12 de agosto. Como parte da série GRI Reflexões, o evento reuniu especialistas e representantes como o Presidente-Executivo da Amec, Fábio Coelho, o Superintendente de Sustentabilidade da Sul América, Tomás Carmona, os Consultores Gustavo Pimental (Sitawi) e Maria Eugênia Buosi (Resultante) e a Coordenadora da Comissão Brasileira do Relato Integrado (CBARI), Vânia Borgerth.

O mediador do webinar, Roberto Gonzalez, da Ibluzonet, introduziu o tema ressaltando a valorização do disclosure dos impactos ESG das companhias para as decisões dos investidores. E provocou a reflexão sobre a periodicidade e a tempestividade de divulgação de tais informações para o mercado. 

Em seguida, Tomás Carmona apresentou o “case” da Sul América. Ele retomou o histórico de relatos da companhia, que ganhou amplitude a partir de 2007 com a abertura de capital e que, no ano seguinte, escolheu o GRI como padrão de referência para seus relatórios. 

Sobre tempestividade, Carmona explorou temas que podem fazer mais sentido para relatos trimestrais ou anuais. Por exemplo, evolução do programa de equilíbrio de gênero é mais adequado, em sua opinião, que apareça no relatório anual, porque não há uma grande variação de um mês para outro ou mesmo de um trimestre para outro. Já as políticas de governança e alguns eventos de sustentabilidade, podem ser mais adequados para reporte a cada trimestre. 

O Superintendente da SulAmérica ressaltou a importância de se contar com um comitê estatutário para tratar dos temas ESG na companhia, com atuação em apoio ao Conselho de Administração. O comitê atua para que as práticas socioambientais tenham abrangência transversal, integrando a atuação de todas as áreas da companhia. O executivo lembrou que 90% das receitas da seguradora atualmente são provenientes do negócio saúde. E explicou como a companhia tem procurado atuar como uma gestora de saúde com o foco no cuidado e na prevenção.

Citou ações relacionadas ao “S” de social na área da saúde, como por exemplo, a disponibilização de recursos de telemedicina, que permite novas possibilidades de acesso à saúde por maiores camadas da população. E tratou ainda da relação com os investidores, que ainda apresentam comportamento heterogêneo na valorização do ESG.  

Centro das decisões

Em geral, os participantes do webinar destacaram o rápido avanço das questões ESG nos últimos dois anos no Brasil, com especial aceleração após o advento da pandemia. Fábio Coelho, da Amec, disse que já se foi o tempo que o tema estava inserido apenas na questão dos investimentos de nicho. Hoje o ESG está no centro das decisões e a Amec trabalha para ajudar os investidores institucionais no engajamento nas empresas investidas. Uma iniciativa da Associação é a realização da Pré-Temporada de Assembleias, que permite a escolha de temas e interesses comuns dos investidores para levar às Assembleias das companhias. Outro exemplo são as reuniões de engajamento coletivo dos associados com membros de conselhos das empresas. Em ambos os casos, os assuntos relacionados ao ESG têm aparecido com maior relevância em 2020. 

“Para os investidores, quanto maior a tempestividade, melhor. Mas entendemos que as empresas têm suas limitações. Então, é importante chegar a um meio termo, um ponto de equilíbrio”, comentou. Com experiência de atuação no Banco Central e Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), Fábio defende que a regulação não pode ser muito rígida, pois tende a afastar as empresas. 

Além disso, pelo fato de não existir ainda uma regulação muito desenvolvida no Brasil. o mercado tem de se valer das boas práticas. “O mínimo é o report anual, com o uso de padrões consagrados, como o GRI ou outros internacionais. Temos de levar em conta o aperfeiçoamento das empresas. É uma curva de aprendizado”, disse.

Vânia Borgerth, do CBARI, coincidiu que as empresas estão passando por um processo evolutivo em relação ao reporte ESG. Lembrou que as informações contábeis acumulam experiência de mais de um século no mundo e os temas relacionados à sustentabilidade ainda são recentes. “O mais adequado é que as informações financeiras caminhem juntas com o ESG”, comentou. Ele acredita que o relato de sustentabilidade deve incluir o aprendizado e a experiências das melhores práticas contábeis. 

Sobre a tempestividade, disse que o mais importante não é a frequência. “É compreensível que há uma necessidade de rapidez na informação, mas ela tem de ser segura”, contou. A especialista defendeu que o mais importante é que a companhia tem de divulgar aquilo que é relevante, que produz impacto para o mercado. Hoje as informações não financeiras relevantes, muitas vezes, não entram nem no relatório anual, pois ficam relegadas a segundo plano. 

E essas informações têm o mesmo potencial ou até maior para perdas nas companhias, por isso, são fundamentais para uma adequada gestão de risco, pois podem provocar grandes perdas. Vânia disse ainda que os fatos negativos devem ser reportados pelas empresas. “O custo de não contar é mais alto que o custo de contar. Se a companhia não conta a história, os investidores e stakeholders a imaginam”, disse. 

Oportunidade de negócios

Maria Eugênia Buosi, da Resultante, defendeu que o ESG precisa estar presente na cultura e no reporte das companhias que têm a prática de ir a mercado para captar com investidores. “Hoje o ESG é uma oportunidade de negócio e as companhias que querem ir a mercado, precisam relatá-lo seja no relatório anual, no informe trimestral ou no fato relevante”, disse. 

A consultora comentou que ao considerar a tempestividade e a transparência socioambiental, o investidor se sente mais confortável, mesmo em relação aos incidentes negativos que podem acontecer para qualquer companhia. E disse ainda que o ESG não tem obrigatoriedade de ser trimestral, pois os investidores ainda nem teriam condições de consumir tanta informação. É um processo de evolução e já será um grande avanço se a maioria das companhias fizer um relato anual adequado e de qualidade.

Relatório anual

Gustavo Pimentel explicou que há várias formas e veículos para se priorizar o disclosure relacionado ao ESG. A primeira é através do relatório anual, que deve ser o foco principal. O segundo veículo é o fato relevante, quando o socioambiental tem impacto para o mercado. O terceiro é o formulário de referência, que costuma trazer as informações do ESG, mas que muitas vezes ficam perdidas ou dispersas. Por isso, é importante que a companhia possa pinçar essas informações para dar destaque em em outros canais, como o portal na internet e os calls trimestrais. 

Um quarto canal defendido pelo consultor é o chamado ESG Call, que é uma tendência internacional. Trata-se de um call coCVm investidores e stakeholders com o foco principal nos temas ambientais, sociais e de governança. Segundo Gustavo, não há periodicidade recomendada, mas esse canal já apresenta uma demanda de profissionais e investidores no Brasil.