B Corporations ganham impulso com ascensão do ESG no mundo

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O movimento global chamado Sistema B, que visa o aperfeiçoamento da governança das empresas, foi apresentado pelo Diretor Executivo do projeto, Marcel Fukayama, em reunião com associados da Amec. No início do encontro, o Presidente-Executivo da Amec, Fábio Coelho, lembrou o contexto de maior relevância sobre o tema sustentabilidade e o papel da associação. 

“Um ano depois do primeiro contato da Amec com o Sistema B, o ESG ganhou forte representatividade, impulsionado pelo processo de pandemia. A Amec está engajada no assunto, trazendo formadores de opinião em reuniões semanais e já vemos investidores institucionais se posicionando de maneira mais forte sobre o assunto”, destacou Fábio. 

Marcel Fukayama, do Sistema B. Foto: Divulgação.

O Sistema B é um movimento global criado nos Estados Unidos e atualmente se organiza como uma rede global. “Nosso papel é criar infraestrutura e oferecer ferramentas para a mudança da cultura empresarial”, explicou Marcel. “A gente vê uma grande oportunidade, no Sistema B, de contribuir através da força de mercado para solucionar problemas complexos, e com isso criar uma nova economia que seja equitativa e regenerativa”, disse o diretor executivo. 

Segundo ele, antes da pandemia de Covid-19 já havia um senso de urgência em todo mundo para olhar com mais atenção para as questões ambientais, sociais e de governança. Marcel citou as reflexões que eram feitas globalmente sobre questões climáticas, com a criação de valor para todos os stakeholders, bancos e instituições, com aumento do foco para os investimentos ambientais. 

“Olhando para o contexto atual, a Covid-19 colocou um grande desafio e oportunidade para promover uma recuperação inclusiva e regenerativa. O que estamos acompanhando nos últimos 150 dias é uma forte qualificação da conversa sobre investimento ESG e o papel das empresas na sociedade”, destacou. Ele destacou a oportunidade de promover a retomada do crescimento da economia brasileira em linha com a agenda 2030 da ONU.

Um dos marcos sobre a discussão ESG é o report Future of Nature and Business, publicado pelo Fórum Econômico Mundial em janeiro deste ano, e que destaca a oportunidade de geração de 395 milhões de novos empregos e US$ 10 trilhões em novos negócios para uma nova economia que considere questões ambientais. “Diante disso, o Sistema B trabalha com uma pergunta central: qual o principal interesse da empresa: gerar valor para o shareholder ou a geração de valor para os stakeholders”, questionou Marcel. 

Certificação

Segundo Marcel, o novo perfil das empresas que pretendem avançar neste novo contexto devem ter propósito, responsabilidade e transparência. Para isso, o Sistema B criou uma ferramenta que ajuda as empresas nessa nova linha: uma certificação que já atendeu 3,4 mil empresas em mais de 70 países. A certificação tem como base uma avaliação de impacto on-line, confidencial e gratuita. 

O impacto medido pela certificação do Sistema B abrange cinco dimensões: governança, colaboradores, comunidade, meio ambiente e clientes. A medição varia de 0 a 200 pontos e se a empresa tiver pelo menos 80 pontos, é considerada uma empresa B. Ele explicou ainda que a ferramenta foi recomendada pelo UN Global Compact (Pacto Global da ONU) para as empresas engajadas na agenda de 2030 da organização. “Ela foi adaptada e lançada em janeiro deste ano com o nome de SDG Action Manager, ajudando as empresas a monitorar seu progresso em direção aos 17 objetivos desenvolvimento sustentável”, em referência aos 17 ODS da ONU. 

No Brasil, há 180 empresas certificadas pelo sistema B. “A avaliação do impacto B apoia o plano da companhia de impacto contínuo. São empresas que querem fortalecer a governança, criar um diálogo com investidores de impacto e ESG, e isso exige métricas comparáveis, verificáveis e críveis. Uma empresa B pode ter um report com essas métricas”, disse. Outra denominação bastante utilizada para as empresas certificadas é o termo B Corp, que significa B Corporation em inglês.

A Natura se tornou a primeira empresa de capital aberto no mundo a se certificar como empresa do Sistema B e, segundo Marcel, teve grandes saltos após essa certificação. “Quando concluirmos o processo de recertificação da Natura, ela passará a ser a maior empresa B do mundo”, disse. Outras empresas de capital aberto que estão nesse propósito é a Movida, já certificada, e mais duas que ainda não estão certificadas, mas firmaram compromisso frente aos seus órgãos estatutários, são o Magazine Luiza e a Gerdau. “Há mais empresas que iniciaram processo de certificação, mas ainda em uma etapa confidencial”, complementou Marcel. 

Investidores

“Se de um lado, tentamos mudar o comportamento das empresas com o Sistema B, também queremos inspirar bilhões de pessoas, e assim criamos demandas sistemáticas com investidores para alocar seu capital nessa economia de impacto positivo”, comentou Marcel. Além disso, o movimento apoia multinacionais, governos e as universidades com iniciativas de formação de novas lideranças.  

Fábio Coelho destacou que a Amec trouxe o código Stewardship para o Brasil buscando, justamente, engajamento com as empresas através dos investidores. “É importante o investidor institucional ter consciência do que está acontecendo para que esses movimentos consigam influenciar, no sentido de cobrar uma linha de responsabilidade social e saber como as empresas podem se adequar”, disse o Presidente da Amec.

A validação do impacto B, na visão de Marcel, acaba contribuindo para se atuar como um instrumento de gestão e qualificação na decisão desses investidores. “A gente começa dizendo que só gerenciar riscos não basta; é preciso ter uma lógica de impacto positivo”, complementou.

Francine Lemos, Diretora do Sistema B Brasil, destacou que os investidores têm papel cada vez mais destacado para induzir mudanças dentro das companhias. “Isso passa por um processo de liderança e cultura. Os líderes são mais vanguardistas dentro do que significa uma empresa de impacto. E o investidor tem um papel importante de influenciar a empresa. Os CFOs estão sendo cada vez mais cobrados, por exemplo, em sua estratégia de sustentabilidade. Isso tem um papel importante de indução de mercado”, pontuou. 

Remuneração

Segundo Marcel, muitas empresas do Sistema B têm se mobilizado em ações específicas. Entre elas, está a medição da diferença salarial de uma empresa como forma de reduzir a desigualdade. “Temos a possibilidade de usar o poder das empresas de reduzir desigualdade dentro do múltiplo salarial da própria empresa”, explicou. Outro tema relevante são os movimentos contra a discriminação racial, que já atingiu cerca de 320 empresas. 

Francine contou que a visão desse movimento é que as empresas possam ampliar a consciência sobre questões raciais. “Damos um suporte para que a empresa comece a entender o tema. A estatística começou no Brasil, e paralelamente começamos a nos posicionar como uma organização antirracista. Hoje, o programa está chegando ao mundo todo”, explicou. 

Em linha com a questão do Clima, o Sistema B promove também ações empresariais de combate à crise climática. Nesse sentido, mais de 500 empresas B firmaram o Acordo de Paris. O papel do Sistema B nesse sentido é o de dar ferramentas e instrumentalizar administradores a medirem os impactos positivos, além de traçarem um caminho de governança alinhando os interesses das empresas aos interesses do planeta. “Temos feito isso no campo da regulação e da autorregulação para termos um produto alinhado a mais de 15 países do mundo”, disse Marcel. 

Ele explicou que a certificação contribui também para a atração de talentos, já que 77% da geração milênio busca propósito de impacto positivo em sua carreira. “As empresas que incorporam propósito de negócio terão mais capacidade de atração e retenção desses talentos”. As empresas B também querem mostrar um posicionamento para sua cadeia de valor, sinalizando para fornecedores, colaboradores, investidores e consumidores que possuem impacto positivo.