Comentarista do Financial Times questiona papel do Acionista

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Em discurso na Conferência Anual do ICGN em Londres, o colunista do Financial Times, Martin Wolf, surpreendeu a plateia de investidores institucionais ao sugerir que o modelo de poder corporativo baseado no acionista pode ser incorreto.

Na visão de Wolf, os acionistas hoje não teriam capacidade de exercer o poder final de decisão nas empresas abertas. Além disso, o articulista acredita que o argumento acadêmico que embasa o poder do acionista – sua posição de “reclamante residual” (isto é, não contratual) sobre os resultados da companhia – é falso. Investidores institucionais seriam capazes de eliminar este risco residual através da diversificação, enquanto outras partes interessadas, como os trabalhadores, não teriam esta capacidade. Estariam, portanto, em posição de risco maior do que os acionistas.

Wolf citou ainda o exemplo dos bancos, nos quais os acionistas contribuem às vezes menos do que 5% do capital total, sendo que os maiores riscos são cobertos por credores, depositantes e pelos contribuintes (dado o papel do governo como garantidor implícito ou explícito dos passivos).

Esses fatores justificariam explorar modelos alternativos de controle, tais como o Conselho de Supervisão presente nas empresas alemãs, com participação dos trabalhadores.

A apresentação levou a um debate acalorado. Stilpon Nestor, da Nestor Advisors, criticou a visão do palestrante por corromper o papel da empresa de capital aberto, talvez com um entendimento excessivamente socialista desse papel. Nestor enxerga o objetivo da empresa como sendo um veículo para mobilizar capitais para determinado fim, devendo, portanto, atender diretamente aos anseios dos acionistas e não a uma visão idealizada de interesse social. Muitos participantes criticaram as consequências de visão do palestrante, uma vez que sua aplicação generalizada permitiria uma situação de descontrole das corporações.